Desabafo

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A oferta formativa em Portugal para a agricultura distribui-se em 3 campos: formação profissional equivalente ao liceu; cursos ultra-específicos de fim-de-semana para o mais básico dos amadores e licenciaturas ou formações apenas abertas a técnicos.

Não existe absolutamente nenhum meio intermédio de formação prática e intensiva que permita a conversão de mão-de-obra em produtores qualificados sem requerer anos de aulas, não existe acesso a cursos profissionais sem ser para produtores estabelecidos, não existem estágios nem formação prática e profissional sem ser aquela providenciada em programas dirigidos exclusivamente a desempregados de longa duração.

Em muitos países não é preciso ter um curso técnico para trabalhar na manutenção de espaços verdes, nem 2 anos de treino em máquinas agrícolas que nem carta de condução exigem. A solução foi outra:  "on-the-job training", que permite aprender e fazer rapidamente e ao mesmo tempo e que permite que a mão-de-obra disponível possa rapidamente começar a trabalhar.

Esta formação para o certificado tem que ser complementada por cursos mais pragmáticos que permitam trazer rapidamente mais gente para a Agricultura.

Apontadores [XV] : "Guarda prado, criarás gado"

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Pastagens no vale da Senhora dos Remédios, Povoação


Pastagens ajudam clima
Projecto português reuniu conjunto de sementes de espécies anuais para pastagem com o objectivo de tornar estes espaços aptos a fundos de apoio ao sequestro de carbono no solo

Pastagens biodiversas ganham prémio BES Biodiversidade
Outro projecto nacional de elaboração de misturas para pasto, com o apoio do Banco Português de Germoplasma, desta vez para apoiar a biodiversidade associada à criação extensiva

Greener pastures: How cows could help in the fight against climate change
Os métodos tradicionais de criação extensiva em África, com integração da produção animal e vegetal podem ser adaptados para resolver as questões de produtividade e gestão sustentável da paisagem

Poluição por azoto custa 320 mil milhões de euros por ano à Europa
A maior parte da poluição dos solos e aquíferos por azoto, bem como as maiores perdas de bio-diversidade em zonas agrícolas devem-se à produção de forragens para pecuária intensiva

Pecuária Biológica – uma alternativa viável
Portugal tem muitas áreas com aptidão para a pecuária extensiva, será que a sua valorização passa sobretudo por uma certificação biológica ou pode a especificidade dos métodos tradicionais ser suficiente?

Pasture-raised or organic: Why we can’t do both
Uma produtora de avicultura mostra as contradições económicas que levam sua à escolha entre a certificação biológica e um grau de criação extensiva mais de acordo com os seus princípios e dos seus clientes

"Da Terra"

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@ NoussNouss

Album [XIV]: Unnatural

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Penelope Kenny




Memórias e Ruralismos

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É uma fatalidade: a cada par de décadas reemerge em algum lado um movimento de "regresso à terra". Mas existe algo em comum entre as diversas reencarnações ou são reacções a pressões políticas e económicas, através de uma idealização do mundo rural?



O "back to the land" nos EUA dos anos 70 foi um impulso de isolacionismo ao que era percebido como um falhanço e diluição política dos vários movimentos de jovens do final da década de 60, reforçado por uma crise energética e política da Guerra Fria e que teve o seu expoente intelectual no Ecotopia . Quase de seguida no R.U. a estéril vida industrial dos subúrbios britânicos são contrastados com o programa "The Good Life" e os livros do John Seymour. São influências que se propagaram também pelo norte e centro da Europa sob todo o tipo de formas, garantindo que este conceito ficasse para sempre associado a esta era.
O isolacionismo e o idealismo ditaram a sua fugacidade mas continua um ensaio sobre como dadas opções de estilo de vida podem funcionar como formas de activismo e crítica política e económica.

Tudo isto contrasta com a excepção da realidade portuguesa, em que um outro tipo de concepção idealizada de um singelo e estático mundo rural era eficientemente instrumentalizada para criar um sedutor apelo ao conformismo político e intelectual. Alheia a esta construção propagandista e ao movimento global de recuperação da horticultura DIY via-se nos quintais, a manutenção (até hoje) das galinhas, batatas e couves galegas acompanhadas do inevitável limoeiro e de da prática de alguma produção de subsistência até hoje.
A partir do fátuo boom dos anos 80-90 quaisquer benefícios reais ou potenciais de estilos de vida apenas superficialmente análogos ao do ruralista sonho molhado do Estado Novo (que ainda hoje é imbecilmente invocado) são associados a um passado de repressão política (eficientemente auto-exercida, e que sobrevive até hoje) ou a um contexto de miséria que deixou mais memórias do que saudades.

É difícil identificar-me com os sonhos de um hippie/baby-boomer americano, nem com uma ilustração a lápis da Colecção Educativa dos anos 60, mas existe hoje o contexto certo para algo mais livre, prático e consequente.

Waldenomania [VI]

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Depois do último post tenho a certeza de que Cavaco Silva lê este blogue (bom dia Sr. Presidente!) e decidiu levar a guerra de palavras para a diplomacia internacional:

"No início, Cavaco Silva citou Henry David Thoreau, autor e filósofo americano do século XIX que escreveu o ensaio político Desobediência Civil, uma defesa da resistência individual ao Estado. O pensamento de Thoreau, por vezes descrito como um anarquista, influenciou Ghandi e Martin Luther King. Cavaco não citou Desobediência Civil, mas outra obra de Thoreau, "Walden ou a Vida nos Bosques"."

no Público

Aníbal vamos encontrar-nos, quero perceber como é que leste (?) os mesmos livros que eu e acabaste com uma interpretação completamente oposta. E recomendo uns terapêuticos 2 anos nas margens do Alqueva.

Mandar pastar

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O presidente desta República que também é nossa diz que devemos seguir o exemplo do "moiral, que ao longo dos séculos conduziu os seus rebanhos para as terras altas da Serra da Estrela" e para quem "não havia fins-de-semana, não havia férias, feriados nem pontes em nenhumas circunstâncias».

É perfeitamente normal para quem tem uma afinidade muito recente a tudo o que é rural que cometa erros de julgamento, por exemplo não ter a noção de que os pastores sem feriados nem folgas são extremamente recentes e um resultado do fenómeno de abandono rural incentivado por certas legislaturas de há umas décadas atrás, que acabou com o hábito das vezeiras, que permitiam permutas na gestão dos rebanhos comunitários, um hábito que tanta fama de preguiçoso deu aos pastores em séculos passados, mas que a mim causa mais admiração do que um qualquer imaginário masoquista transumante.

Aproveitava para recomendar ao PR o documentário amador (auto-produzido e que se pode encomendar) "Névoa no Vale" ou esta excelente reportagem da TSF, sobre o último grande rebanho comunitário gerido em vezeira, na aldeia de Covas do Monte (foto minha cima).

TV Rural [XVII] : O Nosso Veneno Quotidiano

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Este documentário recente sobre as diversas formas de contaminação no sistema alimentar e os processos políticos de regulação do mesmo passou na RTP2 na semana passada em horário nobre.
Como gerou muita (merecida) atenção e muitos só o apanharam a meio aqui fica o filme completo.

Para além do "pobrete mas alegrete"

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 Com a explosão de hortas institucionais e voluntárias e uma maior consciência relativa a alguns valores ambientais e culturais associados ao mundo rural e actividades agrícolas é tentador constatar que se reage em parte ao boom consumista dos últimos anos e ao esvaziamento de significado de uma derrapante economia de serviços. Com esta popularidade, reportagens de "interesse humano" repescam um pastor ou um "velhinho com as suas couves" e condescendentemente apontam a sua singeleza ou "poupança por causa da crise".

Um dos resultados disto é que antes de ganhar tracção ou ser capaz de se consolidar esta postura crítica face ao sistema alimentar, à organização desequilibrada de tempo e trabalho e à relação entre a paisagem e o quotidiano, torna-se alvo de uma versão dos preconceitos do novo-riquismo dos anos do boom ou é interpretada como um pacto com uma austeridade que se reveste hoje com a mesma retórica fatalista da "pobreza digna" do Estado Novo.

Há que ultrapassar preconceitos e reconhecer este activismo económico e político específico de hoje, de base rural e/ou local e centrado na qualidade de vida, com a sua própria postura crítica e interventiva.

Album [XIII]: Viveiros

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Gerco de Ruijter,  série "Baumschule"




Truísmos [XIV]

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"For pleasure has no relish unless we share it"

Virginia Woolf

Apontadores [XIV] : Infografias sobre alimentação

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A Good investe muito em trabalho gráfico de boa qualidade, aqui fica uma recolha temática

2 anos de comida consumida por uma pessoa
Bastante próximos da nossa, excepto a ausência de pão e o fraco papel da sopa

"Tribos" da alimentação
Um comentário cómico sobre uma divisão essencialmente intelectual

O efeito multiplicador da agricultura
A importância de um tipo de desenvolvimento agrícola em países com grandes populações rurais

Como e onde desperdiçamos comida?
Qual a proporção entre desperdícios domésticos e os da indústria alimentar?

A dieta do Paleolítico vs dieta Moderna

Uma comparação curiosa entre dois extremos cronológicos e dietéticos

Comida da prisão e comida da cantina da escola

O Estado americano distribui de forma homogénea a sua negligência

16 cts em cada dólar vão para o agricultor. E o resto?
Uma divisão do produto da venda por função