Pequenas Resoluções para um Ano Novo

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- Aprender Apicultura/ser almofada de alfinetes humana

- Fazer conservas e secagem como deve ser e em quantidade

- Aprender a cozinhar a sério, para saber mais do que 10 receitas

- Fazer um vermicompostor, para me redimir de todos os que comi para impressionar colegas de primária

- Aumentar a produção da horta, para pelo menos garantir barrigada de morangos

- Comprar um conjunto de roupa -casaco, camisa, calças- feito à mão/local (botas já tenho)

- Aprender a fazer queijo curado, possivelmente da ordenha ao prato

- Desistir apenas de menos de metade das resoluções assumidas

Elogio da "Casinha"

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"So precious was manure that Chinese farmers stored it in burglarproof containers. The polite thing to do after enjoying a meal at a friend's house was to go to the bathroom before you departed."


No qual o autor prossegue com assuntos escatológicos.
Uma dos motivos pelo que estou grato por viver no século XXI é a canalização moderna (lamento, Teoria da Relatividade e Penicilina) - por muito que idealize alguns aspectos de outros tempos abandonaria alguns items da civilização mas nunca o duche quente, amen. Em relação à facilidade suspeita do manuseamento da sanita (e do seu Sancho Pança, o absurdo bidé) fico sempre de pé atrás. Penso que se tanto esforço foi feito para transformar o solo num meio fértil e esta fertilidade em alimentos e estes por sua vez em protagonistas de uma luta diária  para não os estragar na cozinha, até serem finalmente ingeridos, então mereceriam um Além mais digno, sob uma reencarnação, do que um bilhete só de ida para uma ETAR ao som diluvial do autoclismo. Afinal, como lembra o fabuloso pormenor de etiqueta chinesa acima, não era a valiosa fertilidade a base do sucesso de qualquer cultivador de alimentos/anfitrião?


Portanto fiz uma pequena pesquisa sobre Sanitas de Compostagem (também chamado saneamento a seco), basicamente versões modernas do buraco no chão tapado com palha num pequeno abrigo fora da casa principal, em busca de modelos que me pudessem eventualmente ser úteis para tomar uma decisão, com a intenção de saber se seria possível prescindir totalmente de equipamentos de tratamentos de resíduos (mini-etars ou fossas) caso quisesse ter uma habitação liberta destes gastos e infraestruturas (paga-se uma mensalidade pela ligação aos esgotos ou limpeza da fossa, para além de papeladas). 
Fiquei impressionado pela presença bastante normal noutros países, especialmente na Finlândia, onde são norma em equipamentos públicos. A Finlândia, como maior produtor destes equipamentos, tem mesmo uma Fundação destinada a divulgar os benefícios do Saneamento a Seco por todo o mundo (que detalhe deliciosamente escandinavo!) e fizeram um excelente manual em português que é bastante completo e esclarecedor. O que parece ser a Bíblia sobre o assunto actualmente é também o Humanure Handbook, que vejo aparecer em muitas recomendações. As soluções dividem-se em equipamentos completos pré-fabricados e em construções feitas de raiz.

Duas opções da Sun-Mar, à esquerda o modelo com depósito na cave, à direita o modelo com depósito embutido

As vantagens desta solução são: eliminação de cheiros; a possibilidade de ter dentro de casa, no local das sanitas tradicionais, o equipamento; solução pré-fabricada, de instalação simples.
As desvantagens que encontrei são as seguintes: para tirar partido da eficiência tem que se escolher um modelo eléctrico para o longo prazo; se tiverem um depósito embutido ficam numa espécie de palco, que viola as leis das acessibilidades; se tiverem um depósito externo precisam de uma escavação debaixo da casa.   Em Portugal por enquanto apenas encontrei este equipamento da Aquatron, comercializado pela Biohabitat.

Duas opções feitas de raiz. À esquerda, da Ferme de Sourrou e à direita da Milkwood Permaculture
  
O modelo de fabrico próprio tem a vantagem económica (embora esteja algo desconfiado deste aspecto), a simplicidade e eliminação da necessidade de remover semestralmente os resíduos de um depósito, que no caso das fixas, a publicidade garante como inodoro e praticamente igual ao composto normal, se correr bem.
Esta parece ser a solução predominante no nosso país e encontrei aqui quem se disponibilizasse a construir/ensinar a construir.
Apesar do nosso clima (sobretudo) brando incomoda-me a sua posição conspícua no exterior da casa, apesar dos felizes exemplos acima. No caso das compradas, estas vêm com uns pellets para misturar com os resíduos mas asseguram-me que a serradura tem o mesmo efeito- mas implica um fornecimento de serradura e tê-la na casa-de-banho. São tudo razões para pensar também em soluções de compromisso, como usar um abrigo no exterior em estações mais quentes e a solução convencional dentro de casa nas restantes, o que sempre reduziria bastante os consumos de água no Verão.

 Seja como for, se algum dia for o proprietário de uma "casinha", prometo desde já não comentar a qualidade e quantidade das lembranças dos visitantes, pelo menos publicamente.

Truísmos [IV]

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"Use it up, wear it out, make do or do without"

Propaganda da 2º Grande Guerra, sobre racionamento de vestuário

TV Rural [II] : Unser Täglich Brot

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 Sem juízos nem comentários, o nosso sistema alimentar como ele é. 

Unser täglich Brot Nikolaus Geyrhalter 2005

A Horta Preparada para o Inverno

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Agricultura Urbana- Casos de Estudo [II]

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 "Growing Power"

Este projecto com sede em Milwaukee, nos EUA, é bastante mais complexo do que a exploração familiar anterior mas tem na sua génese o mesmo conceito comum: alcançar uma produção de alimentos ambiental e comercialmente viável em ambiente urbano.
Foi fundado por Will Allen como um programa educativo destinado a ensinar jovens de bairros degradados a produzirem alimentos para a sua comunidade, geralmente fora dos circuitos de distribuição de produtos frescos e não processados, os chamados "food deserts", zonas com a maior densidade de cadeias de fast-food, pior alimentação escolar e menor poder de compra. O projecto tem três focos principais: componente formativa e educativa relativo à agricultura e alimentação sustentável/saudável; serviços de consultoria e instalação de tecnologia agrícola e a comercialização de produtos próprios e de valor acrescentado, sob uma cooperativa de vários produtores locais.

 O factor espaço versus produtividade é aqui ultrapassado de formas bastante criativas e foi mesmo o primeiro local onde vi descritas algumas técnicas que vêm do conhecimento tipo experiência e erro do seu fundador, como por exemplo:

-As plataformas de cultivo estão totalmente dentro de estufas, sobre tabuleiros dispostos na vertical e utilizando "aquapónica", ou seja cultivando legumes e criando peixes vegetarianos (tilapia e perca) num sistema fechado e sucessivo. Isto torna possível alimentar os peixes com parte da produção vegetal (incluindo resíduos), e estes fertilizam o solo (com os dejectos depositados) e  fornecem carne. Este curioso sistema permite-lhes cultivar uma grande diversidade de alimentos no que é basicamente um loteamento industrial abandonado e convertido numa estufa com uma estrutura que suporte os três níveis: plantas, aquários e contentores de composto.

-A compostagem e vermicompostagem são meios essenciais para manter a fertilidade do solo colocado nos recipientes das estufas. O composto vem de uma quinta próxima, dos resíduos domésticos do bairro (que beneficia de uma recolha de lixo orgânico, com separação) e de uma fábrica de cerveja e café na cidade.


Estes são os únicos inputs de fertilidade nas instalações (gratuitos porque vêm de um serviço que a GP presta) , e são reaproveitados várias vezes no sistema antes de saírem sob a forma de carne ou vegetais. O composto é conservado no interior das estufas para suprir parte das necessidades de aquecimento do espaço. A vermicompostagem serve também de produto para venda (minhocas e excrementos), de suplemento proteico para as aves e peixes e como motor principal da fertilidade do solo.

-O projecto tem também os animais de menor impacto na sua exploração - abelhas, galinhas e cabras- para venda de derivados e carne. As cabras pastam em baldios na cidade e também fazem um serviço pago para limpeza de terrenos. Os alimentos dos animais são produzidos na própria exploração.



A Growing Power tem-se tornado a voz mais importante não só sobre agricultura sustentável mas também sobre como cidades com problemas graves de pobreza e doenças relacionadas com alimentação são oportunidades para a criação de emprego, segurança alimentar e educação.
Para saber mais sobre este projecto o Will Allen faz aqui uma apresentação de diapositivos bastante clara e sintetizada.


Imagens de Growing Power

Hortas Comunitárias em Portugal [II] : Horta de Guimarães

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Ano de criação / Génese:
Guimarães, 2008, Pelouro do Ambiente da CM de Guimarães, aproveitando terrenos em RAN fora da cidade

Área / Nº de participantes:
600 inscritos, ocupação de 100% (expansão em 2011), regime anual renovável (5€), 3 Hectares

Objectivos:

Contacto com a prática agrícola, formação em horticultura e compostagem, parque de lazer

Sítio da Internet:

Reportagem RTP, Reportagem Público, Sítio Oficial

Notas: 

Expansão anunciada já tem lista de espera, aproveitamento de zona agrícola imediatamente contígua à cidade

Truísmos [III]

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"Todas as coisas do mundo são de todos os homens, porque todos os homens delas necessitam, porque todos os homens colaboraram, na medida de suas forças, para as produzir; porque não é possível avaliar a parte de cada um na produção das riquezas do mundo."

Piotr Kropotkin "A Conquista do Pão"

Apontadores [II] : Estrume!

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Soil Association Report: "Between a Rock and a Hard Place: Peak Phosphorus and the threat to our food security"

A associação britânica que promove a agricultura biológica elaborou um relatório que dá conta da dependência da agricultura convencional dos nutrientes da indústria extractiva, mais propriamente o fósforo (China 50%, EUA, 30% e Marrocos 25%, controlam quase exclusivamente o recurso, deixando a Europa numa posição mais frágil). Os autores têm um interesse óbvio em demonstrar a vantagem estratégica da Agricultura Biológica, fortemente dependente do estrume como fonte deste nutriente mas os dados de escassez do fósforo (o chamado "Pico do Fósforo") que apresentam batem certo com os inventários oficiais da indústria. A par do petróleo, mais um pilar essencial da agricultura industrial que fica mais caro nos próximos tempos.

The Atlantic: "Why are farmers flocking to manure?" 

O Gene Logsdon, autor do que é provavelmente o melhor blogue de agricultura do mundo e autor do, entre muitos outros,  eloquentemente entitulado "Holy Shit: Managing Manure To Save Mankind", escreveu um artigo que começa com um premissa inicialmente irónica: e se no futuro próximo o estrume fosse uma das commodities mais valiosas da bolsa de Chicago? Ultrapassando os preconceitos académicos e culturais face ao estrume e a sua produtividade pode ser que agora se possa retomar o caminho racional em vez de continuarmos com o ciclo linear de resíduos e ETARs agrícolas (vulgarmente conhecidas como "rios").


Energy Bulletin: "Tracking U.S. farmers’ supply of nitrogen fertilizer"

O Energy Bulletin, que se dedica ao estudo do uso de recursos na economia global, foca aqui a dependência dos EUA da sintetização de Amónia a partir de gás natural, do qual se obtém outro dos três macro-nutrientes, o Nitrogénio. Neste caso o problema  é o inverso do fósforo- os preços em queda do gás natural e as importações baratas têm eliminado a margem de lucro desta indústria, a par do facto de ser a forma de poluição industrial mais multada, por contaminação de água e solos por sobre-fertilização, a principal causa das eutróficas Zonas Mortas.

Album [II]

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Acervo Fotográfico do Arquivo do Ministério da Agricultura

Léxico [I] : CSA

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Uma CSA (Community Supported Agriculture) é uma forma de comercialização de produtos agrícolas iniciada na Suíça e hoje com uma sólida presença e popularidade nos EUA. Consiste na compra, por parte de consumidores locais, de produtos alimentares e bens transformados de uma exploração ou cooperativa agrícola em troco de um valor fixo por um período de tempo estabelecido. Nalguns casos a participação do consumidor vai para além do contrato anual ou da duração da época de produção e são vendidas participações das próprias quintas, aproximando-se mais de um projecto cooperativo com membros financiadores e membros produtores.Os membros financiadores retêm o acesso a algumas instalações das quintas.

Do ponto de vista do produtor os benefícios são o tempo e esforço libertado na comercialização e logística da sua produção e/ou a negociação com distribuidores; a possibilidade de acomodar pequenas produções ou policulturas e a previsibilidade da receita; e também a ajuda ao financiamento do início de actividade sem recorrer à banca e/ou concorrer a apoios. É um modelo que serve eficazmente pequenas explorações e por esse motivo adapta-se mais facilmente a nichos como a agricultura tradicional, biológica, biodinâmica ou outras.

Os clientes podem ganhar maior conveniência, com as entregas caseiras; os preços podem ser mais baixos e/ou mais justos para o produtor, com a eliminação do distribuidor; e os alimentos tendem a ser mais frescos, não tendo passado pela sequência de processamento, refrigeração e embalamento o que também permite reduzir os impactos ambientais relacionados.

Em Portugal existem alguns projectos de aproximação produtores tradicionais e de pequena escala ao consumidor, em tudo semelhantes ao serviço que as bancas dos mercados municipais -em crise- ainda proporcionam, com menores margens de lucro que os grandes distribuidores de cadeias de supermercados. Existe, por exemplo, a empresa Raízes, no Porto, que combina produção própria e distribuição de pequenos produtores.

Hortas Comunitárias em Portugal [I] : Horta da Graça-Mouraria

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foto de Pauliana Pimentel
Ano de criação / Génese:
Lisboa, 2007, iniciativa de um grupo de cidadãos em aproveitar um baldio.

Área / Nº de participantes:

15 pessoas, área desconhecida

Objectivos:

Convívio, lazer, produção própria

Sítio da Internet:

Blogue, Facebook, imprensa.

Notas: 

Apesar da continuidade do projecto não obteve apoios, nomeadamente reconhecimento legal e água canalizada

Pessoas [I] : John Seymour (1914-2004)

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John Seymour é provavelmente a pessoa que mais merecia um filme biográfico épico, que pelo facto de ser baseado em factos reais, faz pensar porque raio inventaram o Forrest Gump ou o Benjamin Button. Mas para mim o mais importante não é que este homem tenha circum-navegado as Ilhas Britânicas sozinho à vela antes de fazer 18 anos, que tenha vivido com os Bosquímanes no Kalahari, que tenha sido membro activo da elite do exército britânico no sudoeste asiático durante a 2º Grande Guerra ou co-fundado o movimento ambientalista no Reino Unido depois disso.

O mais importante para mim é que tenha descoberto como se vive e felizmente ter posto isso em livro, sem um pingo de psicologia, discurso motivacional ou tretas, basicamente. Se não tivesse pegado no "The Self-Sufficient Life and How to Live It" a minha vida tinha sido diferente, o que é bizarro uma vez que é essencialmente um livro que apenas ensina o que pode ser feito por nós, à mão e a partir do que a natureza nos dá. E por trás disso está a descoberta do nosso valor pessoal e papel no mundo físico em que vivemos mas do qual estamos desligados.

Apontadores [I]

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Público:"Portugueses comem carne e pescado a mais e hortícolas e leguminosas a menos" 

Portugal é hoje um país que ingere quase o dobro das calorias recomendadas, adoptando a pirâmide alimentar invertida de outros países mais desenvolvidos que enche cada vez mais alas de Cardiologia pelo mundo fora. Boas notícias: sobe o consumo de aves e o azeite mantém-se como rei. Más notícias: O nosso hábito de comer peixe mergulhou, e alguém anda a fugir à sopa.

Guardian: "Dwindling biodiversity raises disease risk in humans, study finds"

Mais uma peça evidente na defesa dos serviços da biodiversidade, para além dos óbvios prestados à agricultura e possivelmente mais um passo para que se valorizem também o trabalho de pessoas que zelam pela sua manutenção. A Biodiversidade presta dois "serviços de saúde": um passivo, com o controlo de espécies que lhe é inerente e outro activo, uma vez que na sua variedade estão os segredos da medicina.

BBC: "Russia's Permafrost Not so Permanent Anymore"

Basicamente 60% da superfície do maior país do mundo é um sumidouro onde estão presos 80 biliões de toneladas de metano, o mais poderoso dos gases de estufa. Agora que descongela e se libertam todos os gases presos no solo vão-se formando lagos enormes todos os anos e as emissões aumentam exponencialmente. As opiniões dividem-se sobre se se está a assistir ao nascimento da maior superfície de cultivo de cereais do mundo ou ao mega-evento geológico que vai definitivamente causar uma espiral de colapso climático para além da nossa capacidade de adaptação.

SEWA: "A movement to transform women’s lives in India and beyond"

 

Numa formação de Educadores Ambientais falava-se de desenvolvimento, agricultura e sobre-população e disse na altura que a medida com maior peso individual para abordar todos estes problemas é melhorar o acesso das mulheres destes países ao emprego, sistema político e educação e também à posse de terra porque não é possível ter planeamento familiar e prosperidade quando 50% da população está impedida de participar. Toda a sala, sem excepção, estourou de riso, perante a minha estupefacção completa, que se prolonga até hoje, excepto quando leio estes relatórios que confirmam o que me parece óbvio.

Grist: "Today’s DIY women: Post-‘domestic’?

As mulheres mais "autónomas" e "independentes" de hoje são aquelas que mais objectos e tarefas domésticas conseguem fazer, muitas delas são coisas que nem as avós alguma vez aprenderam. Conhecendo a onda "neo-rural" que atravessa os EUA devo dizer que os blogues mais interessantes, as quintas mais inovadoras, os talentos mais impressionantes são quase sempre de mulheres, mas de longe. Cara Simone de Beauvoir: estas mulheres fazem posts sobre Asimov e depois vão ajudar a parir um carneiro.

TV Rural [I] : o melhor reality show de sempre

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Truísmos [II]

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"Os problemas de Portugal são essencialmente agrícolas: excesso de nabos e falta de tomates." 

A.S. no Viragem

Pragmatismo e Caricatura do Pragmatismo

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À esquerda, Polyface Farm (@vaaerial) , à direita uma exploração intensiva de aves ( @sraproject).
À esquerda, pastagem rotativa da Polyface Farm que consiste num sistema em que um pasto de culturas perenes e anuais (com forrageiras e feno produzido à parte) em que se alternam aves e gado bovino. O gado recolhe as ervas altas e deposita o estrume, as galinhas seguem-no alguns dias depois, quando as larvas do estrume estão a surgir, e tratam do resto do pasto e das pestes do gado, finalmente seguidas pelos coelhos. Os animais são processados e vendidos na quinta e a esta importa uma pequena quantidade do combustível (tem um conjunto muito reduzido de máquinas com mais de 20 anos) e nenhum fertilizante, pesticidas, herbicidas ou tratamento sanitário (é multada frequentemente). É um esquema produtivo circular em que o solo é constantemente fornecido de húmus, para acompanhamento de aumentos de produção dos animais saudáveis, que têm os seus comportamentos naturais encorajados e omnipresentes.

À direita, uma exploração ultra-intensiva de gado bovino (apenas) que consiste em abrigos onde os animais são mantidos toda a vida num espaço equivalente ao seu volume sem nunca terem pastado ou visto a luz do sol. A "piscina" ao lado consiste num poço ao livre de vários metros de profundidade de excremento e que, apesar de uma espessa parede de betão, permite infiltrações no solo e aquíferos subterrâneos (não é possível beber água do poço em alguns condados do EUA). Este excremento é levado por camiões para uma incineradora. O gado é mantido em proximidade extrema entre indivíduos e resíduos e alimentado exclusivamente a milho, que não consegue digerir por não ter evoluído nesse sentido, assim, como resultado, tem que ser medicado constantemente (através da ração) para não sucumbir antes do momento do abate. O campo à volta é plantado com milho transgénico em vez de pasto, o que implica trabalhar o solo com sementes adquiridas e um conjunto grande de fertilizantes, herbicidas e pesticidas com maquinaria pesada.

Apenas um deles não recebe subsídios que constituem 60% da fonte de financiamento; não contribui para poluir aquíferos, solos e ar; é mais produtivo em produtos diversificados; não está dependente de grandes fornecimentos de combustível, químicos de síntese e farmacêuticos; gera 5 vezes mais empregos; ocupa menos solo (que melhora produtivamente) e é capaz de vender em grandes e pequenas quantidades. O outro é o que alimenta grande parte dos países industrializados.

Truísmos [I]

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"I'm busy promoting the Jeffersonian intelectual agrarian mystique in order to attract the best and the brightest to farming and I think that if we have agricultural models that actually return a white-collar salary to farming we will attract the best and the brightest." 

Entrevista a Joel Salatin via Planting Milkwood

Album [I]

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Fotografias de António Pedro Ferreira, para a  reportagem "Um pouco mais de verde e era campo", de Katia Delimbeuf para a revista Única ( 13.06.2008)

Agricultura Urbana- Casos de Estudo [I]

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Path to Freedom, Pasadena CA
 Esta é uma empresa familiar (4 adultos) localizada em Los Angeles, Califórnia que começou como uma produção em pequena escala de hortícolas para consumo próprio. Esta ideia evoluiu para um projecto de "auto-suficiência" (no maior grau possível) que inclui autonomia energética através de painéis PV e AQS, recolha de água da chuva para rega e de óleos alimentares para combustível do jipe de distribuição, processados num digestor próprio.
Com a evolução do conhecimento dos membros evoluiu para uma ocupação bastante eficiente do reduzido espaço (apenas 360m2!), transformando-se numa pequena empresa fornecedora de frescos.


A exploração comercial é caracterizada por:

- Produção de produtos de baixo custo de produção como germinados (rebentos para saladas); saladas, plântulas para transplante
- Produção de produtos exóticos ou de difícil de conservação como saladas asiáticas ou ervilhas frescas e também de espécies vegetais comestíveis locais (heirlooms)
-Produção de produtos caseiros de valor acrescentado como compotas, molhos e conservas
-Produção de Sementes de Agricultura Biológica para venda por correio

 










Osclientes são sobretudo:

-Contratos com restaurantes biológicos/health food/gourmet/catering locais
-Compradores por internet (sementes e conservas)
-A exploração envolve-se em acções não-lucrativas como educação alimentar e agrícola a crianças e apoio à escola do bairro
-Produzem também, para consumo próprio, fruta, mel e ovos

Para tornar tudo isto possível aplicam algumas tecnologias incontornáveis para agricultura urbana no seu clima seco, por exemplo:

-Recolha de água da chuva pelas coberturas, para rega e lavagem
-Usam "ollas", potes de barro enterrados que regam por capilaridade
-Usam rega conta-gotas ligada aos tanques de água da chuva
-"Square-foot gardening", uma forma de cultivar hortícolas em solos profundos e de composição
constantemente controlada, usando "camas elevadas"
-"Jardinagem vertical", criando armações metálicas que funcionam como suportes para trepadeiras (privilegiadas em relação ás formas arbustivas), sejam maracujás, kiwis, tomateiros, feijões, abóboras, melões, pepinos, etc. É uma forma eficiente de duplicação do espaço e regulação térmica do microclima do jardim.













O facto de esta exploração ser também a base de um fórum bastante popular e ser bastante divulgada nos media americanos torna-a num exemplo influente do que poderiam ser, numa escala menos ambiciosa, centenas de milhares de hectares em cidades por todo o mundo. Esta tipologia prova que é possível atingir atingir nichos comerciais para produção agrícola em grandes cidades e manter uma micro-exploração viável.

Todas as imagens são da Path to Freedom

À procura de quê?

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Casa nas Sete Cidades 2009


Quando Henry Thoreau se muda durante dois anos para o Lago Walden, no Massachusetts, não procurava um refúgio de uma sociedade esclavagista e restritiva, de um quotidiano de uma boom-town industrial ou de um retiro transcendentalista, pelo menos não à partida. Procurava um formato simplificado para o seu quotidiano e um estilo de vida que traduzisse da forma mais essencial a resolução das suas necessidades mundanas, ganhando com isso uma plenitude na sua relação com o meio natural do qual retira a subsistência e o tempo para viver essa relação diariamente e contemplá-la, escrevendo. 

A solução de Thoreau (temporária e repleta de erros didácticos) não constitui um ideal em si mas é um símbolo de um projecto de vida que passa por ultrapassar todo o percurso social e intelectual que a nossa cultura oferece à partida e procurar uma forma de existir nela, sem a renegar ou a aceitar simplesmente. Retenho da experiência de Walden uma lição importante: não me revejo numa cultura em que estamos divorciados dos nossos meios de subsistência e da cultura humana milenar que nos permitiu termos um compromisso com a Natureza capaz de assegurar a nossa coexistência. 

Desconheço totalmente qual é o caminho para o "meu" Walden pessoal, que provavelmente não estará na margem de um lago na Nova Inglaterra, mas gostava de ordenar aqui ideias, projectos e interesses para que pelo menos tenha uma espécie de preexistência digital e para que um dia encontre este lugar.